Depois da ronda de Jerez, uma pequena pausa levou a “caravana” das naked-bikes de regresso ao Estoril, e ao CNV Moto para um fim-de-semana “daqueles”, ainda por cima enquadrados com o exótico mundial de side-cars que, nos recentes anos, nos tem visitado nesta ronda do Estoril, mas já lá vamos.

Apesar de prevista uma larga presença nos TNB – Troféus de Naked-Bikes, estas acabaram por ser reduzidas a duas dúzias, devido às ausências de Luis Metello #6 e Nuno Farias #21, na S1000R Cup, e de Marcos Leal #73 e Miranda Reis #88 na Zcup, por razões várias. As ausências na Zcup acabavam assim por influenciar, ab inicio, a cor deste pódio, pois os estreantes Romain Berton #83 e Julien Ballais #94, montados em Triumph Street Triple 765 RS, assim como Frédèric Bottoglieri #11, com moto idêntica desde a ronda anterior, garantiam colorir de forma diferente o pódio da Zcup que, recordamos, desde esta época, admite outras naked-bikes com potência declarada abaixo dos 140cv, ou seja o que nas rondas em Espanha se denomina por TNB2.

Com a aproximação do final da época, as vitórias nos troféus e na geral das naked-bikes, começam-se já a definir, em particular o da S1000R Cup que, neste fim-de-semana, poderia já consagrar o seu vencedor, apesar de ainda faltarem duas rondas (a de Aragón e Portimão).

A somar a este ponto de interesse, havia a curiosidade sobre o desempenho dos estreantes franceses com as suas StreetTriple’s, em particular de Ballais, o vencedor do WEC, ie, o campeonato de naked-bikes que se desenrola em França. A somar a todos os duelos, somava-se assim este mini-duelo entre as três StreetTriple presentes.

Mas os pontos de interesse não ficavam por aqui. Aos anteriores, somavam-se as condições meteorológicas, pois a previsão ditava forte diluvio, alternado com bom tempo, entre sexta-feira e Domingo. O tipo de condições que complica de sobremaneira as opções de pneus e settings, mas que são típicas desta altura do ano.

Felizmente, os treinos de sexta-feira correram sobre a clemência dos céus e, nem a confusão de quem vendia os treinos, veio desanimar este regresso ao Estoril, onde a hierarquia em pista começou cedo a ser definida, apesar da ausência dos tempos oficiais. Mas vamos ao que interessa!

Treinos Cronometrados

O prometido diluvio caiu e forte no sábado, alagando completamente o circuito e dando dores de cabeça ao organizador do evento, o MCE, ao ter de adiar e reestruturar as sessões de Qualificação, para além de tentar acomodar o horário, neste período de dias mais curtos, das corridas previstas para o dia, tendo todas sido reduzidas a 2/3 das suas voltas originais, bem como os procedimentos de partida revistos.

Estas condições complicavam a vida de todos, mas sobretudo dos estreantes, pois Ballais não conhecia o circuito nestas condições, depois de o ter descoberto somente no dia anterior, e Berton nunca tinha corrida à chuva, nem no Estoril nem noutro lado.

Mas a complicação para uns, foi a vantagem para outros, e assim Anselmo Vilardebó #12 levou a sua Tuono à pole position da geral, deixando todos os outros “a léguas”! Muito bom!

Atrás dele ficou a Tuono de Pável Bogdanov #7 que superou por pouco a outra Tuono, a de Paulo Vicente #62. Atrás desta linha “full” Tuono, ficaram as duas melhores S1000R de Ricardo Almeida #31 e Duarte Amaral #10, deixando as duas StreetTriple do estreante Ballais e de Bottoglieri a liderar a linha 3, e a outra, a de Berton a liderar a linha 4. Marco Perez #49 ficou “entalado” entre duas TLCs na linha 5, com as restantes nakeds a ocuparem a linha 6, liderada por Ricardo Pires #14 e a sua Z, na frente das Tuonos de Miguel Sousa #5 e o regressado Luis Franco #22, ainda à procura de ritmo.

Corrida 1

Com a corrida declarada como “wet race”, com as voltas reduzidas a 6 (de 10), com as nuvens a desaparecerem e o sol a aquecer, surgiu a dúvida sobre quais pneus montar. Full “wets”? Full “slicks”? Misto entre “wets” e “slicks”? Bom, a dúvida persistiu até ao último momento, tendo Vilardebó e Bogdanov optado por “wets” na frente e “slicks” atrás, o que fez toda a diferença, como se verá, optando todos os outros, por se manterem em “full wets”. Mas, na TLC, categoria que partilha a pista com os TNB, houve quem arriscasse por “full slicks” e isso, ainda mais diferença fez.

Apagados os semáforos, é a Tuono de Vicente quem faz o holeshot, imediatamente ultrapassado por Ballais que fez um arranque de antologia ao subir de P7 a P1!! Fantástico!

No final da recta interior, ainda da primeira volta, a Tuono de Vicente sobe a primeiro, e no final da primeira volta, a Tuono de Vilardebó sobe a 2º da geral, começando logo a recuperar de um arranque mais “conservador” e provando a sua opção de pneus. Mas o mesmo se passava, um pouco mais atrás, com a TLC de João Curva que tinha optado por “full slicks” e que subia de P9 a P6.

Na volta 3, a Tuono de Vilardebó sobe a primeiro da geral, assim como a TLC de Curva que sobe a terceiro!  Mais atrás, Ballais, que tinha descido à sexta posição, depois de ter sido superado pela S1000R de Amaral, a TLC de Curva e a Tuono de Bogdanov, é superado por Bottoglieri no “mano-a-mano” particular entre as StreetTriple. Mais atrás ainda, a Tuono de Franco supera a S1000R de Perez que saiu sem ajudas electrónicas!  Nesta volta, Berton decide desistir com a sua StreetTriple, depois de vários e violentos high-sides

Na volta 4, a TLC de Curva despacha a Tuono de Vicente, com a Tuono de Bogdanov a superar a S1000R de Amaral para o quarto posto. Mais atrás, a S1000R de Almeida desce a P11, depois de alguns sustos valentes, sendo superada pela Tuono de Sousa, a TLC de Capitão e a Z de Pires.

Na volta 5, a TLC de Curva sobe à liderança da corrida, provando que a opção “full slicks” tinha sido a certa, enquanto todos os outros que optaram por “full wets” apanhavam “bonés”, numa pista completamente seca e com o asfalto a subir fortemente de temperatura, destruindo os “wets” sem apelo nem agravo! Quando tudo parecia decidido, eis que a Tuono de Vilardebó, na última volta, falha a travagem na curva da orelha e entrega, de “mão beijada” a vitória nos TNB à Tuono de Bogdanov!  São assim as corridas, e até à bandeira de xadrez, nada está resolvido, como bem demonstrou Aleix Espargaró no MotoGP da Catalunha.

Corrida 2

Com o sol a brilhar forte no Domingo, estavam reunidas condições fantásticas para a última corrida do último fim-de-semana no Estoril desta época.

Não tendo havido alterações na grelha de partida, apagados os semáforos, é a Tuono de Bogdanov quem desta vez faz o holeshot, seguido da S1000R de Almeida e da Streettriple de Ballais, ambos a fazerem um arranque fantástico!

No final da volta 1, a S1000R de Amaral sobe a P2 superando a StreetTriple de Ballais e depois a S1000R de Almeida, enquanto mais atrás, a StreetTriple de Bottoglieri, consegue superar a Tuono de Vicente e a StreetTriple de Ballais. Fred está “on fire”!

Lá na frente, a partir da volta 2, começa um duelo sem tréguas entre a Tuono de Bogdanov e a S1000R de Amaral!  Ambos são os únicos a rodar abaixo do segundo 50, baixando ao segundo 48 até à volta 6 e, nas voltas seguintes, baixando ao segundo 47, ultrapassando-se várias vezes na recta da meta, até que Amaral decide, na última volta, atacar Bogdanov na travagem para a parabólica interior, conseguindo superá-lo aí! Bogdanov, ainda sofre um grande susto, ao tentar dar o troco na curva seguinte, na curva da orelha!  Que corridão!! Amaral consegue assim a sua primeira vitória da geral com a BMW S1000R, bate o seu recorde pessoal (agora 1:47,670) e, não satisfeito, dá-se por vencedor da S1000R Cup!  Um Domingo para recordar pelos dois pilotos e por quem esteve a assistir a este fantástico duelo!

Mas atrás “as coisas” também ferveram entre as StreetTriple de Bottoglieri e Ballais, a Tuono de Vicente e a TLC de Curva! As trocas de posição, entre as StreetTriple e a Tuono, foram uma constante, com a S1000R de Almeida “apanhada” em histórias alheias e a TLC a observar no que aquilo ia dar! O desfecho final ditou a Tuono de Vicente em P3 da geral, seguida da StreetTriple de Bottoglieri, da TLC de Curva e da S1000R de Almeida, todos separados por somente 1,1s!! Karamba!! Ballais, entretanto, perdeu ritmo no final, sendo inclusive superado pelas TLCs de Machado e do “outro” Amaral.

A Tuono de Vilardebó não conseguiu acompanhar este ritmo e viu-se apanhado pela Tuono de Sousa que, na travagem para a variante na última volta, “fez-lhe a folha”, subindo ao top 10, superando o seu grande amigo.

Um pouco mais atrasados, a Z de Pires ainda trocou farpas com a StreetTriple de Berton, acabando os dois separados por 55 milésimas, na luta para o último lugar do pódio TNB2, logo seguidos da S1000R de Perez que por pouco não resolveu o lugar à geral para o lado dele. Realmente, animação foi o que não faltou!! Bom, talvez do lado da Tuono de Franco que nunca se sentiu à vontade neste fim-de-semana. Longas paragens assim condicionam, mas é uma questão de tempo até o vermos no ritmo que se lhe conhece.

Foi mais um fim-de-semana fantástico, desta vez, verdadeiramente completo, pois até houve 4 estações do ano em três dias!? Uma ronda de duplas corridas com menu completo!! Incrível! Todos os participantes louvaram o evento, com os franceses a realçarem o bom ambiente que se vive nos TNB. Muito bom!!

Terminada esta sétima ronda da época, os participantes dos 3 troféus (S1000R Cup, Tuono Cup e Z Cup) e “outras naked”, seguem já no próximo fim-de-semana para a ronda de Aragón, a segunda do “triple header” e última com o CIV, regressando depois a Portugal, para terminarem a época no fantástico circuito de Portimão, no fim-de-semana de 19 e 20 de Novembro. Nas contas dos troféus, depois da ronda 7, temos:

Fotos de Vic Schwantz Barros e Hellofoto

TNB 7

Podiums

Tuono Cup

Este artigo foi publicado igualmente em https://s1000rcup.pt/2022-tnb7 e https://zcup.pt/2022-tnb7